A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua a saúde como não a simples ausência de doença, mas o completo bem-estar físico, mental e social. Esse entendimento, partilhado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), permite que os trabalhos da rede pública não privilegiem somente a atenção médica curativa, mas também a promoção da saúde e prevenção de doenças por meio de ações estratégicas intersetoriais.
Muitas são as possibilidades de promoção da saúde integral da infância. O simples ato de escutar o que pensam e querem as crianças, associado ao estímulo ao brincar, é uma delas. Seguindo essa lógica, a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Sé, em parceria com a São Paulo Carinhosa, que articula o trabalho de 14 secretarias municipais, e a ONG CriaCidade, tem conseguido intervir significativamente na qualidade de vida de crianças que que vivem em habitações coletivas no Glicério, região central de São Paulo.
Essa já era uma área mapeada pela Estratégia Saúde da Família (ESF), com visitas regulares de agentes comunitários de saúde. Mas o alcance do trabalho e a adesão das famílias ao acompanhamento médico ganharamforça quando as crianças começaram a ter seus anseios ouvidos, por meio do projeto Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério, apoiado pela São Paulo Carinhosa.
A demonstração de cuidado e atenção com a infância fez a comunidade se envolver, abrindo caminho para uma intervenção comunitária que integra diferentes ações do poder público com objetivo de reduzir a situação de vulnerabilidade social das crianças e suas famílias e de oferecer a elas melhores condições de vida, englobando não apenas a saúde, mas também – e prioritariamente – educação e moradia, por exemplo.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) não atua isolada nesta experiência. Pelo contrário. O trabalho tem impactado positivamente no bem-estar de tantas crianças e famílias justamente por ter caráter colaborativo e intersetorial, envolvendo variados agentes e órgãos com propósitos mútuos.
A escuta como promoção da saúde
No processo de escuta das crianças, o desejo de brincar, de ter um espaço propício para a diversão, aparece com frequência. Nem sempre elas possuem, dentro do ambiente em que vivem, locais e instrumentos que lhes permitam exercitar uma prática tão inerente e saudável à infância: brincar – direito assegurado por lei às crianças e fator fundamental para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social nessa fase da vida.
Ouvi-las e levar em consideração suas opiniões e anseios resultou na elaboração de um projeto arquitetônico para revitalização de uma praça do Glicério. A reforma da área de lazer ainda vai acontecer, mas condições que favoreçam experiências lúdicas e de recreação já são realidade.
Rotineiramente, ações são promovidas em ruas, escolas e, por vezes, dentro das próprias moradias coletivas do bairro. São brincadeiras, jogos, atrações culturais e musicais, oficinas, atividades educativas e intervenções no espaço público que se traduzem em promoção da saúde das crianças e estimulam a socialização e o convívio familiar.
Soma-se a isso o fato de que os eventos também favorecem a oferta pontual de serviços, seja em saúde (com ações, por exemplo, de conscientização sobre higiene bucal), educação (com oferecimento de matrículas escolares) ou assistência (com cadastramento de famílias em programas sociais do governo).
Nesta experiência no Glicério, ao reconhecer as características do território, identificando quais necessidades devem ser priorizadas e quais potencialidades podem ser fomentadas, a SMS, atuando de forma articulada com a São Paulo Carinhosa em áreas estratégicas do município, tem conseguido dar mais efetividade aos serviços, garantindo que a qualidade dos trabalhos se mantenha em um processo de evolução contínuo e que as demandas dessa população sejam atendidas com a máxima eficácia.