FOTOVOICE e o Cuidado às Pessoas em Situação de Rua

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A Secretaria Nacional de Assistência Social caracteriza população em situação de rua como um grupo populacional heterogêneo de pessoas de diferentes realidades que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular.

Dados de 2015, retirados do censo da População em Situação de Rua da Cidade de São Paulo, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo (SMADS), apontam mais de 15.000 pessoas vivendo em situação de rua no município, sendo 7335 vivendo nas ruas e 8570 em Centros de Acolhida.
Em 2011, a Política Nacional de Atenção Básica instituiu a criação de equipes multidisciplinares, o Consultório na Rua (eCnR), que oferecem serviços de saúde integral a população em situação de rua indo até os pacientes nas ruas, praças ou em Centros de Acolhida, visando ampliar o acesso dessa população aos serviços de saúde.
As eCnR têm a missão de identificar as necessidades específicas de pacientes em situação de rua com o objetivo de abordar, acolher e inserir essas pessoas no Sistema Único de Saúde, oferecendo promoção, prevenção, tratamento, recuperação e manutenção da saúde. Também visam atuar inclusive na busca de usuários de álcool, crack e outras drogas, sempre pensando na lógica do atendimento em rede e compartilhado.

Na região da Armênia, a AMA UBS Integrada Pari tem contato diário com pacientes em situação de rua. Em sua área de abrangência, além de praças, há seis Centros de Acolhida que abrigam pessoas em situação de rua atendidas pelos profissionais da Unidade. No Complexo Canindé ficam os Centros de Acolhida Samaritanos, Vivenda da Cidadania, Olarias e Maria-Maria. Também são atendidos pacientes do Centro de Acolhida Estação Vivência e do Sítio das Alamedas.

Na eCnR da Unidade atuam profissionais contratados pelo Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (BOMPAR), que possui uma parceria com o município, e conta com duas médicas, uma enfermeira, uma assistente social, um psicólogo, dois auxiliares de enfermagem, dois agentes sociais, seis agentes de saúde, uma auxiliar administrativo e um motorista.

Em 2016, em resposta ao Desafio Mais Saúde na Cidade, e com o apoio da Supervisão Técnica de Saúde Aricanduva Mooca, a equipe produziu o projeto “O Cuidado Humanizado às Pessoas em Situação de Rua: Vencendo Desafios”, motivados pelas dificuldades de acompanhamento e resolutividade dos casos atendidos, como complexidades clínicas e psicossociais, doenças crônicas, uso abusivo de álcool e outras drogas, preconceitos, violências doméstica e urbana, entre outras.

O projeto visava monitorar o atendimento integral aos pacientes e, com o auxílio deles, elaborar o Projeto Terapêutico Singular (PTS), buscando equilíbrio entre os objetivos e metas pautados por eles e os recursos técnicos da equipe. Foram selecionados para o projeto os dez casos de maior complexidade e vulnerabilidade atendidos pelos profissionais da Unidade.

Os objetivos dos PTS eram garantir o acesso dos pacientes à saúde de forma integrada e interdisciplinar, ampliar a resolutividade dos casos e as condições de reinserção social e promover o protagonismo e a autonomia dos pacientes. Durante as reuniões para discussão de casos, a equipe observou a riqueza de informações trazidas por cada profissional, destacando um potencial que vai além do que é registrado nos prontuários.

Foi possível perceber maior aproximação com a equipe de enfermagem, que passou a compartilhar espaços nos momentos de acolhimento e encaminhamento das demandas diárias dos pacientes em situação de rua, moradores da região ou não, além da melhor percepção da gestão da Unidade em relação aos problemas e as necessidades da equipe Consultório na Rua BOMPAR.

Também foi observada a necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde (equipes de saúde de AMA, UBS, PAI, PAVIS, NASF, ESF e Assistência Farmacêutica) quanto às singularidades dos pacientes em situação de rua. Alguns pacientes optam por não freqüentar serviços da prefeitura, alegando que estes possuem muitas regras. Em alguns Centros de Acolhida, por exemplo, travestis são obrigados a ficarem em alojamentos masculinos e também a usarem roupas consideradas do sexo masculino.

Pensando em uma finalização ao trabalho do Desafio Mais Saúde na Cidade, e também em uma forma de sensibilizar os profissionais e outros pacientes que freqüentam a Unidade, assim como em discutir a visão desses pacientes em relação a suas condições de vida e, assim, mostrar como eles se enxergam, foi realizada a técnica de FOTOVOICE, método que utiliza imagem e voz como ferramentas de discussão e para evidenciar situações problemáticas da sociedade.

O método foi desenvolvido por Caroline C. Wang, da Universidade de Michigan, e Mary Ann Burris, associado da Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS), da Universidade de Londres, com o objetivo de promover uma discussão crítica sobre um tema ou situação dando voz a quem está diretamente envolvido, podendo resultar em uma mudança de realidade ou condição.

Os participantes passam por oficinas de fotografia e captam uma ou mais imagens que, para eles, representam ou respondam uma questão chave preestabelecida.

Antes de levar este método aos pacientes, membros da equipe participaram de uma oficina de treinamento que foi realizada na UNIFESP pelo professore Eduardo Sodre e pela professora Katherine Johnson, da Universidade de Brighton. O trabalho da eCnR BOMPAR, porém, precisou ser adaptado em função da falta de recursos técnicos e dificuldades ocasionadas pelas condições de saúde dos pacientes.

Os pacientes puderam realizar as fotos em locais de própria escolha, sempre acompanhados de um integrante da equipe, que levantou como questão chave a frase “Como é a minha vida?”. O resultado final foi exposto durante a Semana da Luta Contra a Discriminação da População em Situação de Rua.

Também foram realizadas apresentações teatrais e musicais, palestras e debates com a participação de profissionais de saúde, pacientes da Unidade e pessoas em situação de rua. Os participantes puderam conhecer um pouco da realidade das ruas através do olhar de quem nelas vive.

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